Pode haver espíritas comunistas? (II)

Após mais de 140 comentários no outro texto: Pode haver espíritas comunistas?, está bom encerrar por lá, começar novamente e explicar melhor algumas questões que surgiram nos comentários e que, pelo visto, não foram bem entendidas.

Primeiramente, vamos aos conceitos que usarei:

Individualismo: Doutrina que prega a preponderância do indivíduo sobre a sociedade. Exemplo: um homem nasce em um meio vicioso. Pelo individualismo, se ele cai no crime é por sua vontade e deve recair nele a responsabilidade por seus atos.

Coletivismo: Doutrina que prega a preponderância da sociedade sobre o indivíduo. Exemplo: um homem nasce em um meio vicioso. Pelo coletivismo, se ele cai no crime é por causa do ambiente em que cresceu. Neste caso, a responsabilidade do ser é enfraquecida ou mesmo transferida inteiramente para a sociedade.

Comunismo: Uma forma mais intensa de coletivismo na qual não há propriedade privada dos meios de produção, portanto não há divisão de classes. Uma consequência disso é que cabe a uma entidade além do corpo social definir em qual quantidade e através de quais processos serão produzidas as coisas, e como estes produtos serão distribuídos. Portanto, é atribuído a esta entidade, que receberá o nome de Estado, o papel de órgão planejador central da economia e da sociedade.

Socialismo: Uma forma mais branda de coletivismo em que se aceita alguma propriedade privada e, portanto, classes sociais, mas ainda cabe ao Estado o direcionamento da economia e da sociedade. A distinção deste em relação ao Comunismo se encontra meramente na intensidade da intervenção do Estado na vida do indivíduo.

Espiritismo: Doutrina que estuda e comprova a existência do mundo espiritual, suas relações com o mundo material e as consequências morais dessas relações para o homem e para a sociedade.

Além disso, é bom revermos alguns dos princípios básicos do Espiritismo:

Deus: Inteligência suprema, ou seja, possui em infinitude aquilo que chamamos inteligência - a capacidade de discernir, aprender e amar. Também é causa primária de todas as coisas, uma vez que, por definição, é necessária uma causa que não tenha causa para que algo seja considerado Deus. Portanto, Deus é o Criador do Universo e dos seres que o habitam, sejam estes espirituais ou materiais.

Espírito: É o princípio inteligente do Universo, isto é, a parte do Universo que tem as características que atribuímos à inteligência: raciocínio, discernimento, consciência, sentimentos, etc. Os Espíritos podem se apresentar encarnados, se envolvidos em um corpo material, ou desencarnados, se envolvidos apenas pelo perispírito. Como o perispírito é um intermediário entre o elemento material e o elemento espiritual, ele apresenta-se também como um tipo de matéria e, sendo assim, os espíritos estão sempre em contato com algum elemento material, mesmo que sutil. O conjunto de todos os seres espirituais forma então um mundo, chamado de mundo espiritual.

Matéria: É o princípio material do Universo. Ela é a parte do Universo que as ciências da Terra tem exaustivamente estudado com relativo sucesso. A matéria tem massa, extensão, apresenta-se de forma variada, é sujeita à força e velocidade, etc.

Somente quando alcançam o estado de espíritos puros, os Espíritos Superiores nos dizem que o espírito perde completamente o seu envoltório material, mesmo o perispírito. Contudo, isto ainda não foi demonstrado e não o será tão cedo, constituindo-se, apesar de lógica, numa questão de crença.

Uma observação: quando Kardec diz espírito, com e minúsculo, ele está se referindo ao princípio espiritual; quando ele diz Espírito (com E maiúsculo) ele está se referindo aos seres que se designam por este nome e que aparecem nas comunicações espíritas. Note que Espírito é tão somente a alma do homem (o seu espírito, princípio espiritual) que se desliga do corpo e passa a viver no mundo espiritual.

Comunicabilidade com os Espíritos: ora, como são seres inteligentes, nada mais normal que o processo de comunicação acontecer entre os Espíritos. A "novidade" do Espiritismo, neste caso, é o estudo sistemático desse processo de comunicação, em particular dos desencarnados com os encarnados. Há inúmeras consequências morais desse fenômeno e que também são estudados pelo Espiritismo.

Escala Espírita: Da mesma forma que os seres vivos na Terra podem ser classificados, os Espíritos também sofreram uma classificação. Enquanto aos seres vivos são classificados por causa de seus atributos materiais, como forma, anatomia, genes etc., os seres espirituais são classificados, apensar de não de forma absoluta quanto aos seus aspectos morais, isto é, o quanto mais evoluído, do ponto de vista moral, é um Espírito. Note que, como no caso dos seres vivos que podem ser classificados por diferentes sistemas, os seres espirituais também podem ser classificados por diferentes sistemas. A classificação de Kardec é, portanto, uma da possibilidades e ele apresenta um sistema baseado na evolução moral do Espírito. Aqui há uma importante consideração: há EVOLUÇÃO moral, isto é, há princípios morais melhores que outros, mais conformes com a ética. É difícil para o homem pensar nisso, porque costuma ou negar tal propriedade (evolução da moral), ou colocá-la de forma absoluta e dicotômica (isso é bom! isso é mau!).

Reencarnação: é o princípio que nos informa que os espíritos podem tomar um corpo de carne novo, ao nascimento, deixá-lo pelo fenômeno da morte, e retornar ao mundo material, tomando outro corpo novo, ao nascimento deste, e assim sucessivamente. Há inúmeras consequências morais desse fenômeno e que também são estudados pelo Espiritismo.

Pluralidade dos mundos habitados: como consequência da reencarnação, todos os mundos apresentam-se como habitação para os espíritos, sejam na condição de desencarnados ou encarnados. Além disso, a própria espiritualidade apresenta outras tantas moradas dos Espíritos quando nos intervalos das reencarnações. A vida material e outros mundos, contudo, carece de mais estudos pela ciência humana, porque até o momento, a corrente dominante é olhar os outros mundos e a eventual vida material lá com uma visão Terra-cêntrica. Kardec já chamava atenção para erro nesta visão. Cada vida em um mundo deve ser adaptada àquele mundo.

Leis Morais da Vida: Allan Kardec, o Codificador, fez um trabalho fantástico de discussão da Lei Natural, isto é, da Lei de Deus, do ponto de vista moral, através de uma discussão simples, porém profunda, através de uma divisão dessa lei em várias mais facilmente entendíveis aos seus leitores (10, para ficar próximo de Moisés e não ter tanto problema com a Igreja de então). A principal característica, de todas elas, no entanto, pode ser resumida por uma frase que ouvi de Divaldo Franco (mas não sei se é dele): "O homem é o construtor do seu próprio futuro!"

Como consequência imediata, Kardec, muito conforme a visão de seu tempo, coloca o Espiritismo como um Doutrina de síntese (junta várias descobertas científicas com as crenças religiosas da época) e individualista (faz todo um trabalho de colocar o homem no centro do discurso e sua superioridade sobre a sociedade que forma, recaindo sobre si também a responsabilidade pelos seus atos).

Já adiantando, individualismo não é egoísmo, tampouco implica no pensamento exclusivista da pessoa em relação ao seu grupo. Uma doutrina pode ser individualista e, ao mesmo tempo, pregar a caridade. O Espiritismo faz isso: diz "Fora da caridade não há salvação" e, ao mesmo tempo, "o Homem é o herdeiro de si mesmo". Note-se que o conceito de "Caridade" como doação, de si mesmo, e de suas coisas que são suas, implica em uma forma de propriedade privada (você é usufrutuário do seu corpo, do seu tempo e possui coisas que podem, se você quiser, serem doados para outras pessoas).

Feita esta introdução, vamos a questão do título desta postagem: Pode haver espíritas comunistas?

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O Comunismo é uma forma mais completa de coletivismo, isto é, que a sociedade é o guia do homem, da pessoa. Em particular, num Comunismo completamente estabelecido não haveria classes na sociedade, porque tudo seria propriedade desse coletivo. Essa ideia é crucial. Muitos vão falar que não é verdade, que o comunismo aceita a individualidade, a criatividade e a ação individual. Só que essa afirmação, pela lógica, é antagônica a própria definição de Comunismo.

Se admitirmos que o Comunismo aceite a individualidade, a criatividade e ação individual, então deve aceitar o princípio que a pessoa possa fazer algo em seu tempo livre que seja criativo e diferente de tudo o que existe. Vamos chamar essa coisa de "a Obra". Uma fez feito "a Obra", a quem ela pertence?

Ora, pertence ao indivíduo que a criou, pode-se pensar. Neste caso, nenhum outro indivíduo da sociedade teria acesso "à Obra" a não ser que o indivíduo que a criou o deixasse. Isso é a exata configuração da propriedade privada. E é a propriedade privada que cria diferenças de propriedade na sociedade, portanto, a sociedade de classes. Note que o obreiro poderia dar "a Obra" para a comunidade, mas para isso, ele teria primeiro que se apropriar dela e lhe dar o destino.

Note que pensamento da não existência de propriedade privada dos meios de produção não exclui poder haver diferenças entre as pessoas, só não poderia haver diferença entre as propriedades das pessoas. Portanto, um Comunismo com uma sociedade com classes não seria bem um Comunismo.

Por ouro lado, pode-se pensar que "a Obra" não pertenceria ao indivíduo que o criou, então a sua propriedade recairia na comunidade (note que não é uma questão de dar à sociedade, mas sim a propriedade "da Obra" é, por princípio, da sociedade). Logo, ninguém pode ter seu acesso "a Obra" cerceado. E não caberia ao indivíduo que criou "a Obra" a definição do que fazer com ela. Isso recai sobre a sociedade, organizada de alguma forma, uma vez que ela é a detentora da propriedade da "Obra". Se não há propriedade privada, então, por definição, a propriedade é coletiva. Se a propriedade é coletiva, é a coletividade quem decide o que fazer com a "Obra". Então o indivíduo que criou a "Obra", neste caso, não teve sua ação individual ou sua individualidade respeitada, pelo simples fato de que não pode manter para si o fruto do seu trabalho ou dar destino a ele. Portanto seria o desejo coletivo sobre o desejo do indivíduo (definição precípua do Comunismo), e então isso entra em contradição com a afirmação que, no Comunismo, a individualidade seria respeitada.

Esclarecida a lógica da contradição de que o Comunismo aceitaria individualidade, criatividade e ação individual, por ser coletivista, então, por definição, Comunismo é uma forma de Coletivismo que não aceita a propriedade privada.

Vamos ao Espiritismo.

Só o ponto do individualismo já mostraria uma complicação em termos espíritas comunistas. Os espíritas deveriam ser individualistas, por princípio, enquanto  comunistas não aceitariam o individualismo, por princípio.

No entanto há mais: o espiritismo não só aceita a propriedade privada, como a coloca como balizador de uma das questões mais prementes do ser humano. Sabe em qual das Leis Morais, Kardec colocou a definição de propriedade privada? Justamente no capítulo que trata da Lei de Justiça, Amor e Caridade.

Isso não é à toa. Todos os direitos podem ser pensados como partindo da propriedade privada. E todos os deveres também.

Vejamos: a caridade só é verdadeiramente caridade quando doamos algo nosso: seu tempo, trabalho, corpo, inteligência, bens etc. Portanto, o dever precípuo de todo Cristão, a Caridade somente pode existir num ambiente em que se respeita a propriedade privada. Se as coisas não tem dono gera-se uma contradição.

Se não vejamos: Aqui há uma pilha de agasalhos. Alguém vai lá pega da pilha um agasalho e o veste. Se a propriedade é coletiva, isso não é roubo. Outro alguém pega o mesmo agasalho, mas, em vez de vesti-lo (porque não precisa dele) dá para alguém que o veste. Se a propriedade é coletiva, novamente, não é Caridade, porque a pessoa não está dando algo que é seu (até porque não precisa do agasalho), só está sendo um intermediário para que aquele agasalho chegue até o seu usuário final.

Resumindo: o roubo somente é configurado se há propriedade privada envolvida. É a propriedade privada, que vai dividir a sociedade entre aqueles que tem alguma coisa e aqueles que não tem essa alguma coisa. Se a propriedade é coletiva, então, por definição, não há caridade, pois qualquer um pode ter acesso a qualquer coisa da sociedade.

Também não haveria roubo em uma sociedade coletivista, pois qualquer um teria que ter acesso a todos os bens da sociedade. Uma sociedade completamente coletivista que considerasse roubo alguém entrar em uma casa e pegar comida para comer já não seria totalmente coletivista (na verdade já seria mais individualista que coletivista).

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Aqui caberia uma digressão sobre corpos e pensamentos. Numa sociedade coletivista suprema (vide obra de George Orwell), você teria propriedade sobre o próprio corpo?, o pensamento seria vigiado?
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No fim e ao cabo é a propriedade o que define o direito natural: uma pessoa não pode fazer algo que o dono da propriedade não permita o terceiro fazer. Isso vale pra tudo, mesmo em situações em que é difícil se perceber quem é o dono de que, incluindo aí ideias e pensamentos.

Exemplo: uma pessoa não pode pregar sobre Nazismo em minha casa, porque eu, não sendo nazista, não aceito suas teses de raça superior. Tal pessoa não tem o direito de usar a minha casa para pregar essas ideias. O direito de propriedade sobre a minha casa me dá o direito de impedir tal acontecimento. Veja que o direito de expressão é uma consequência da propriedade privada. Isso se expande para uma multidão de outros acontecimentos do mesmo teor.

Agora, o que acontece em uma praça pública? Uma praça pública é considerada propriedade da sociedade (do público, daí o nome). Então, esse indivíduo nazista se acha com direito de fazer palanque ali e pregar tais teses. De fato, foi preciso uma lei no Brasil para se proibir tais movimentos (digressão: não está aí o início de se tentar cercear o pensamento das outras pessoas?).

Note-se que uma sociedade individualista aceitaria que alguns bens fossem considerados não pertencentes à ninguém, enquanto em uma sociedade coletivista, não haveria a hipótese de haver algum bem em nome de uma única pessoa.

Estou sendo repetitivo até, porque deve ficar claro os conceitos. Muitos vão dizer, mas isso que você está falando não é o Comunismo e não tem nada a ver com Espiritismo. Então vamos ver...

Pelo Espiritismo, a lei de justiça, amor e caridade está toda contida no seguinte: em se realizar (cumprir) a lei natural. O homem só é feliz quando em linha com a lei natural. Só é infeliz quando dela se afasta.

Como realizar a lei natural? É aí que entra a consciência. A lei de Deus, a lei natural, está inscrita ali. Se nos afastamos,  consciência acusa. Se estamos em linha com a lei, a consciência está tranquila. Não há verificador melhor e é mais uma mostra da sabedoria do Criador que nos fez ignorantes, mas factíveis em encontrar a plenitude. Tal plenitude está toda no amor, o ponto delicado do sentimento, meta da evolução espiritual.

Para se chegar ao amor, temos que passar por uma série de experiências. Dentre elas, o embate (essa é a palavra que Emmnuel utiliza) de nós mesmos em contato com os nossos semelhantes. É o contato com os semelhantes que nos vai forjar as características do homem de bem, do ser puro do futuro. E, para isso, o Espiritismo trás uma máxima: "Fora da Caridade Não Há Salvação!".

É a propriedade que dá o sentido da caridade, como visto acima. Então, o Espiritismo tem por princípio a propriedade.

Também é a propriedade que dá o sentido de Justiça. A verdadeira justiça está em respeitar os direitos dos outros e não colocar em risco, com suas ações, a felicidade de outra pessoa. O dever moral da criatura está todo em respeitar os direitos do outros.

Vamos a um exemplo: a Liberdade. Só há liberdade de ação quando não se coloca em risco a outrem. Segundo o Espiritismo, é no pensamento onde o indivíduo pode ser o mais livre possível quando vivendo em sociedade, porque é somente em seu o pensamento, que é livre. Excluídos do exemplo os casos patológicos e as obsessões.

Quando em sociedade, em princípio, você pode pensar o que quiser, e agir da forma que quiser, só que as consequências dos seus pensamentos e atos, vão recair sobre o indivíduo que pensa e age, tornando, então a liberdade um conceito relativo: só sou livre se respeito a liberdade do meu semelhante! E não cabe a ninguém julgar o pensamento, e mesmo as ações alheias, exceto se essas ações prejudicam a terceiros, além da própria pessoa, o qual é o princípio da indulgência.

Esse princípio é chamado de princípio da não agressão: Você pode fazer o que quiser desde que não agrida (mesmo por pensamentos, ou palavras ou atos) ao semelhante (o que inclui as coisas que lhe são de propriedade).

E uma pessoa não coloca em risco outra quando respeita o espaço da pessoa, o seu pensamento, a sua vontade etc. Ou seja, há uma noção de propriedade na não agressão. Perceba que a própria liberdade está subordinada à propriedade: você tem mais liberdade na sua casa que na casa do vizinho!

Da mesma forma é a propriedade que vai ditar o dever das criaturas. Há mesmo um texto em O Evangelho Segundo o Espiritismo que é explícito sobre isso: "o dever das criaturas começa no momento exato em que colocais a tranquilidade do próximo em risco", isto é, quando você invade o  espaço, o corpo, o pensamento (ideias), a vontade do próximo com o seu corpo, o seu pensamento (ideias), a sua vontade.

Mais uma vez, é estranho o fato que espíritas (cuja Lei de Justiça, Amor e Caridade é baseada na propriedade) aceitem as teses comunistas (que obviamente retiram a propriedade das pessoas em detrimento ao coletivo).

Eu sei que há inúmeros irmãos em crença Espírita que defendem as teses coletivistas. Aqui o fenômeno, apesar de estranho, é simples e corriqueiro. Não somos os melhores exemplos de coerência. O fato de não ser coerente em plenitude com algo, não significa que a pessoa esteja errada, apenas não pensou com profundidade. Outros ainda não aceitam em completude o pensamento Comunista, apenas alguns de seus princípios, princípios esses que, acham esses irmãos, estão alinhados com os princípios de caridade do Espiritismo. Como mostrado, é uma questão de lógica, mas, novamente, não significa que o irmão esteja em erro absoluto e deva receber anátema sobre sua crença.

Então é só apenas incoerente de nossa parte sermos espíritas e comunistas ao mesmo tempo. Note que para outras religiões não há essa incoerência!

Lembrando uma passagem do livro Boa Nova: "Pedro, aprenderás, ainda hoje, que os homens são mais frágeis que perversos", a incoerência é mais uma das nossas fragilidades.

Muitos irmãos pensam que, no Comunismo, haverá mais respeito pelos outros, menos fome e injustiças. Esse é o engano que maioria de nós caímos.

Já fui comunista também justamente porque queria um mundo com menos fome, menos erros, menos injustiças. E a crença imputada na infância pela escola e colegas era que, no Comunismo, essas coisas não aconteceriam.

Só após muitos anos de estudos da Doutrina Espírita que me deparava constantemente com o individualismo metodológico (não sabia nem que era isso), onde tudo era aplicado primeiro ao indivíduo e depois aos outros e à sociedade, é que consegui tecer um raciocínio mais lógico sobre essas questões.

Foi em uma palestra do Divaldo Franco em que ele falava das diversas alternativas para a humanidade em que comentava que o Capitalismo apareceu como um meio mais justo, porque pelo esforço individual poderia-se galgar os estratos sociais, mas ele finalizava colocando o Amor como alternativa. Como o Amor poderia ser uma alternativa para um modo de produção econômico? Como o Amor poderia ser uma alternativa para a filosofia-política?

Foi então, parafraseando Einstein quando visualizou-se cavalgando um raio de luz e descortinando a Teoria da Relatividade: "minha mente explodiu!".

Só o Amor, em sua mais profunda substância, permite o completo respeito por si mesmo e pelo próximo, o que equivale o respeito pela propriedade do outro, pelos direitos do outro, pela liberdade alheia. Só o Amor, consubstanciado em caridade, permite que pobres tenham possibilidades, pela Caridade de seus semelhantes. Só o Amor, consubstanciado em inteligência, permite não mais enganos falíveis, mas pensamentos retos e a vontade firme. E são essas coisas que são importantes.

Os ismos vão e vem, mas o Amor vai continuar. Não no deixemos enganar: o espiritismo não se coaduna com a maior parte desses ismos que temos por aí. Só vai se coadunar com a responsabilidade individual (em outras palavras o individualismo por método), com o dever moral como base da justiça (respeito aos outros, respeito a propriedade) e com o trabalho contínuo de transformação moral da criatura (aquisição de cultura e benevolência).

Por hora ainda não temos toda a coerência que queremos: viver cada ponto do Evangelho plenamente. Um dia no futuro, aí sim seremos completamente coerentes, como o Cristo, e essas coisas não serão nem mesmo uma questão a ser discutida/lembrada.

Abraços

André Cavalcante

Comentários

Rafael Querino disse…
Perfeito artigo, depois desta explanação não é possível que os irmãos seguidores da doutrina espírita continuem se enganando sobre o comunismo e socialismo.

Recentemente escrevi um artigo que foi publicado em formato de vídeo em um dos maiores canais de libertarianismo do Brasil, https://youtu.be/OV_0NqKfOd4 comenta lá depois. Obrigado novamente pelo artigo, abraço.
Rafael Querino disse…
Perfeito artigo, depois desta explanação não é possível que os irmãos seguidores da doutrina espírita continuem se enganando sobre o comunismo e socialismo.

Recentemente escrevi um artigo que foi publicado em formato de vídeo em um dos maiores canais de libertarianismo do Brasil, https://youtu.be/OV_0NqKfOd4 comenta lá depois. Obrigado novamente pelo artigo, abraço.

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